Salar de Uyuni - Parte 1: Trens, alpacas, lhamas, cactos e sal

Era chegada a hora de conhecer o Salar de Uyuni. Na realidade não só o salar, mas todo o deserto, as lagoas e a experiência de passar duas noites viajando por aí em um veículo com uma galera desconhecida. Nos dias de planejamentos sempre imaginei, com a leitura dos relatos, que essa seria uma experiência única na minha vida. Juntamente com Machu Picchu, o tour pelo Salar de Uyuni eram os dois momentos mais esperados do mochilão e não me decepcionei. Pelo contrário, foi até mais do que eu esperava. Segue então o relato de três dias e duas noites pelo deserto.

Palavras não são suficientes

21/05/2014 - 6º dia

Fomos enganados, mas quem se importa?

O início do dia 21 foi de preparação para o tour. Os colegas capixabas estavam muito mais bem preparados do que eu e por conta disso peguei algumas dicas com eles, sobre o que deveria levar, o que faltava, etc. Comprei então um suéter de pelo de lhama e óculos de sol da conceituada marca "Rai Fio", por uma bagatela de 110 bolivianos. Levei também duas garrafas de 1 litro de água e amendoim. Voltei então para o hostel e nos sentamos no sofá, aguardando o guia turístico chegar. O horário estava marcado para 10:30. 

Primeiro contato com os companheiros de viagem
No hostel haviam vários outros grupos de pessoas que também iam fazer o tour, mas por outras companhias. Brasileiros e argentinos faziam os últimos preparativos para partir. Nosso guia foi o último a chegar, por volta das 10:50. Guardamos as nossas malas no Jipe, entramos no veículo e partimos. O título do texto fala que fomos enganados e aqui dou a primeira explicação. Quando fechamos o tour nos foi prometido que teríamos a companhia de três meninas de Minas Gerais. Não fechamos por conta disso, óbvio, mas quando entramos no carro eram um casal de espanhóis e uma japonesa que iriam nos acompanhar. Ao longo do texto não vou tocar mais neste assunto, portanto vou relatar logo que fomos enganados também pelo preço, que foi diferente para cada subgrupo dos seis viajantes, e pela promessa de que iriamos dormir a primeira noite em um hotel de sal. Jedi, o nosso guia, nos disse que isso só iria acontecer se encontrássemos um disponível. Outro fato complicados foi a falta de tomadas para carregar nossos aparelhos. Até haviam, mas eram pouquíssimas e na segunda noite tivemos que pagar pelo serviço. Mas nada disso tirou o brilho da viagem. Nada! Primeiro porque a galera que nos acompanhou foi sensacional do começo ao fim. Segundo porque dormimos em um hotel de sal. O problema todo é a malandragem dos bolivianos, por isso é sempre bom tomar cuidado. Pagamos 120 dólares, mas outros pagaram 180 e 90 pelo tour. 

Primeira parada: Cemitério de Trens

Ciudad de Uyuni
Cemitério de Trens 
Nossa primeira parada foi no Cemitério de Trens. Confesso que o lugar não é dos mais impressionantes, pois é "somente" um lugar com trens enferrujados, praticamente um ferro velho. É bonito, nos deu a possibilidade de tirar fotos bem legais, mas não achei tão legal assim. O que me impressionou foi a quantidade de Jeeps perfilados na frente do Cemitério. Inúmeros grupos iniciam ou terminam o seu tour por ali e já pude sentir que iriamos nos encontrar mais à frente em muitos momentos, o que de fato aconteceu. Não posso deixar de confessar que não sou um bom fotógrafo, por conta disso os meus registros acabam não sendo tão impactantes como o de outras pessoas. Esta ai algo que necessito melhorar para o próximo mochilão: fotografia. Mas perto da memória os registros não são nada.

Segunda parada: fotos com lhamas

Após o cemitério de trens continuamos nossa viagem, desta vez em direção ao deserto de sal. Ao longo do caminho não se vê quase nada, apenas uma ou outra casa, alguns nativos e as famosas lhamas. Em determinado momento havia um enorme grupo de lhamas. O guia então parou e pudemos vê-las de perto e tirar algumas fotos. São animais bonitos, bem característicos da região e dóceis. Algumas alpacas também estavam ali no meio, misturadas aos outros animais. 

Lhamas e alpacas no deserto
Terceira parada: Salar de Uyuni - parte 1

Salar de Uyuni
Uhul!
Paramos diversas vezes no salar. A primeira parada foi de certa forma uma introdução para o que nos esperava. Assim como no Cemitério, haviam muitos Jeeps espalhados pela região. Lembra das pessoas que vi no ônibus de Potosí para Uyuni? Pois bem, muitas estavam ali. Algumas do nosso hostel também estavam. Confraternizamos, tiramos fotos, conversamos e, principalmente, apreciamos a bela vista do Salar. 

Fazendo uma nova conexão com os antigos posts, lembra que a meia é um dos esconderijos de grana nas minhas viagens? Estava com 200 dólares em um dos tênis e pisei várias vezes na água. Só fui lembrar quando estava com o tênis molhado de água. Por sorte o cara lá de cima (ou "El Tío"?) me abençoou e o dinheiro estava intacto. Assim que entrei no Jeep retirei a grana do tênis para não correr mais riscos desnecessários.

Quarta parada: Monumento do Rali Paris-Dakar

Rali Dakar
Monumento do Rali Paris-Dakar
Um dos trajetos do famoso Rali Paris-Dakar é o Salar de Uyuni. Não vimos nenhum carro, até porque o rali ainda não havia se iniciado, mas uma das paradas foi em um belo monumento do Rali. Nesse ponto novamente se repetiu o encontro com os outros viajantes, sempre com muita conversa e brincadeiras. São muitos os brasileiros que fazem este tour, sendo que se dividem entre os que escolhem o de 2 noites, alguns de 3 e por ai vai. Em conversas com Jedi, o guia, fomos informados que existem tours de até 20 dias. Nesses mais longos os viajantes sobem as inúmeras montanhas, ou ilhas, que existem no deserto.




Quinta parada: Salar de Uyuni - Parte 2

Pisando no gringo
Após o monumento viajamos por mais alguns minutos. Com o tempo fomos nos desprendendo dos outros carros. Na realidade cada um seguiu um caminho, até que todos sumiram no deserto. Apenas um outro grupo, de simpáticos bolivianos e um brasileiro, nos acompanhou nessa trajetória. Perguntei a Jedi qual era o segredo para não se perder. A resposta foi óbvia e profunda: experiência. Muitos já tentaram fazer o tour por conta própria e acabaram se perdendo no meio de tanta branquidão. Paramos então no meio do deserto. Nada em volta, a não ser sal, sal e mais sal. 

O nosso almoço também aconteceu ali. Comida simples mas gostosa: arroz, salada, uma carne e Coca-Cola quente, o que é um costume dos bolivianos. Eles tomam tudo quente, ou na temperatura ambiente, como eles preferem dizer. Após o almoço passamos pelo menos 1 hora e meia apenas tirando fotos dos mais diversos tipos, sempre com o auxílio do prestativo Jedi. Nisso tivemos muita sorte, pois o guia do outro grupo não ficou nem mesmo 30 minutos com eles. Nosso guia nos ajudou bastante, deitou no sal, tirou a bota e nos apoiou nas fotos, mesmo porque ele é o experiente do tour e nós apenas amadores. Pegar ângulo e distancias ideais não é tão fácil como parece.

Transporte
Nosso veículo do deserto

Sexta parada: Ilha dos Cactos



Fotos batidas, local conhecido e viagem que segue. A próxima parada foi na Ilha dos Cactos, uma montanha no meio do deserto com cactos dos mais variados tamanhos. Para subir na ilha é necessário pagar 30 bolivianos. Decidimos não subir, até porque não foi necessário para apreciar a vista e tirar boas fotos. Novamente o mutirão de Jeeps foi um dos destaques do local. Ficamos no sal mesmo, observando os enormes cactos.

Ilha de Cactos
Ilha dos Cactos
Sétima parada e chegada ao Hotel de Sal


A sétima parada foi bem rápida. Paramos próximo de uma estrada para apreciar a vista e provar um pouco do sal. Ao fundo havia uma montanha com algumas casas aos pés. É um dos poucos vilarejos existentes no meio do deserto. Essa parada foi rápida, pois devíamos seguir em frente para encontrar o melhor hotel. 

Provando o sal de Uyuni
Essa parte do hotel foi confusa, pois quem chegar primeiro fica com as melhores acomodações. Ninguém nos avisou disso no começo da viagem, mas tudo bem. Chegamos em um hotel de sal com vários quartos, um precário banheiro, uma varanda simples e algumas poucas tomadas. Ficaram conosco mais 2 ou 3 turmas. Nessa parada conheci muita gente de outros países, bem como alguns brasileiros e um pouco mais da turma que estava comigo no tour.

Um argentino estudante de sociologia com sua namorada. Uma boliviana com sua família realizando o sonho de conhecer o Salar de Uyuni. Um brasileiro com sua esposa e filho pequeno, que iam fazer o tour de apenas uma noite. Mais um brasileiro gente boa, do nordeste e meio maluco. E assim terminou o dia, regado a chá dos mais variados tipos e algumas torradas. Após o chá mais conversas, desta vez com o pessoal que estava comigo. No final da noite, antes de irmos dormir, jantamos uma bela macarronada com frango. E como essa galera come frango, hein. 

A noite foi menos fria do que eu esperava, ainda bem. Fomos dormir após um dos dias mais legais da minha vida.
Corredor do hotel de sal.
Dormimos na última porta a esquerda.

Galera no "chá do fim de tarde

Hotel de sal - Nosso primeiro alojamento.
A foto foi tirada na manhã do dia seguinte.

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